terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"FORÇAS OCULTAS"??? Gravação com voz de Bulgarelli oferecendo dinheiro a jornalista "desaparece" na Polícia Federal em Marília

Tomou doril... Sumiu...

Pelo menos dois de quatro cd's com mais de três horas de gravações feitas pelo jornalista Oswaldo Machado com bastidores da campanha de reeleição do prefeito Mário Bulgarelli (PDT) simplesmente desapareceram dentro do prédio da Polícia federal em Marília.

O material faz parte do inquérito 336/09, que apura irregularidades como uso de caixa 2, enriquecimento ilícito de agentes públicos e abuso do poder econômico e político na campanha de 2008. Há expectativas de que seja concluído até o final do mês de março ou abril deste ano.

Se a lei for cumprida à risca, Bulgarelli pode ser cassado pela Justiça Eleitoral, embora existam dúvidas se assume o vice Ticiano Tóffoli (PT), ou quem estiver na presidência da Câmara ou se haverá convocação de novas eleições. A única certeza é que a lentidão do inquérito beneficiou os acusados.

O jornalista é a principal testemunha de acusação e, no decorrer das apurações, chegou a ser agredido quando estava a caminho da Prefeitura e Câmara de vereadores, em busca de certidões oficiais de documentos para subsidiar o inquérito. O suspeito é o servidor municipal Alexandre Pereira dos Santos, o "Coxinha".


O SUMIÇO DAS GRAVAÇÕES
Oswaldo Machado protocolou um "termo de declarações" na delegacia da PF em 24 de agosto de 2009, com dois novos cd's de áudio em anexo. O "sumiço" foi descoberto pelo delegado Sandro Viana dos Santos, que assumiu o inquérito meses depois, em substituição ao delegado José Navas Júnior.

Por esse motivo, a investigação sofreu mais um atraso (vem se arrastando desde julho daquele ano...), o que impediu a elaboração de laudo técnico oficial com a degravação das conversas, feitas por iniciativa própria do jornalista, que temia estar sendo vítima de "armação" por parte do gabinete do prefeito.

Em virtude do desaparecimento das gravações, o delegado Sandro Viana determinou a abertura de sindicância interna na PF para apurar responsabilidades. O jornalista, que já foi vítima de furtos de documentos em sua casa nos tempos do ex-prefeito Abelardo Camarinha (PSB), não guarda mais papéis e semelhantes na residência.

Mas comprometeu-se a entregar cópia da petição protocolada assim que encontrar a pessoa que desde então passou a esconder parte de sua papelada. Cópias dos cd's, também por medida de segurança, estão com outra pessoa, em outro local, mas também serão entregues à autoridade em breve.

O fato não chega a ser grave como o sumiço de inquéritos na Polícia Civil do Rio de janeiro, como vem sendo noticiado nos últimos dias nos desdobramentos da Operação Guilhotina, mas comprometeu o andamento do inquérito em Marília, em que o principal investigado, o prefeito Mário Bulgarelli, até hoje foi sequer intimado para dar sua versão dos fatos, ao lado de outro suspeito, o chefe de gabinete Nelson Grancieri.

CALA A BOCA, JORNALISTA!
Oswaldo Machado foi o principal responsável pela condução da linha editorial do jornal Atualidades durante a campanha de 2008, com o "revival" de denúncias contra o ex-prefeito Abelardo Camarinha que ficaram escondidas dos marilienses durante a administração dele, quando Camarinha dominava a imprensa local apoiado por seu então fiel escudeiro José Ursílio.

A repercussão dos fatos mexia com a opinião pública e alavancava a campanha de Bulgarelli, principal beneficiário e orientador número um do trabalho. Pagamentos de jornalistas, gráfica terceirizada do jornal e panfletos anônimos, saíam diretamente do gabinete do prefeito, feitos em espécie por Nelson Grancieri.

O objetivo principal era minar a campanha a prefeito do deputado estadual Vinicius Camarinha (PSB). Como Oswaldo Machado ficou mais conhecido por ter investigado e denunciado irregularidades na administração do pai dele, foi contratado por Bulgarelli e Grancieri, além do dono do Atualidades, Maurício Machado, o "Palhinha", para fazer esse trabalho.

Desgastado em todos os sentidos ao longo de vários anos de luta contra a corrupção em Marília, em tempos que atuava praticamente sozinho, tentando ter seu próprio jornal, independente, Oswaldo Machado tinha compromisso assumido com a família e amigos de afastar-se da profissão e da política e buscar outra atividade a partir de 3 de outubro de 2008.

Mas levou calote em mais de R$ 40 mil de Bulgarelli, Grancieri e Palhinha. Continuou trabalhando e durante meses tentou receber o combinado, até que um dia se cansou. De repente, emissários de Bulgarelli e Grancieri passaram a procurar-lhe em busca de um "acerto", um "cala a boca".

Foi a partir daí, com receio de alguma "armação" por parte do gabinete do prefeito, que Oswaldo Machado passou a gravar encontros e telefonemas que recebia dessas pessoas, já determinado a desmascarar o que rolou nos bastidores da campanha eleitoral.

Nesse meio tempo perdeu o convívio de sua esposa e filha, que não suportaram mais tanta pressão e dificuldades financeiras. Chegaram a mudar de cidade com medo das consequências da nova etapa de brigas políticas. Até o irmão do jornalista, servidor concursado da Prefeitura, recebeu pressões para fazê-lo mudar de atitude.

São pelo menos nove gravações, com mais de três horas de áudio. na principal delas, dois dias depois de uma oficial de gabinete procurar Oswaldo Machado em nome de Bulgarelli, o próprio prefeito busca um acerto:

"- Eu sei que houve um desconforto (expressão usada corriqueiramente por Bulgarelli) entre você e o Nelsinho (Grancieri)... Mas eu tô mandando ele te dar um dinheiro aí... Pode deixar comigo que quando eu entro eu resolvo! Eu decido!"

Na sessão da Câmara de anteontem, o próprio vereador Eduardo Nascimento (PDT), ex-presidente do Legislativo e em 2008 principal articulador das alianças partidárias que levaram à reeleição do prefeito, disse: "-Esse Bulgarelli não é dado a cumprir acordos!"